Apresentarei
aqui alguns impasses que talvez nunca nos demos conta, sobre um dos homens mais
falados no mundo.
Vou descrever
a vocês a história de um homem: Antes mesmo de ele nascer, já se sabia que ele
seria uma pessoa especial. Um ser sobrenatural informou sua mãe que o filho que
ela iria conceber não seria um mero mortal, mas um ser divino. Nasceu de
maneira milagrosa e se tornou um jovem inusitadamente precoce. Quando adulto
deixou sua casa e se tornou um pregador itinerante, incitando seus ouvintes a
viver não pelos bens matérias desse mundo, mas por valores espirituais.
Arrebanhou diversos discípulos. Provou que era divino por meio de milagres,
curando enfermos, exorcizando demônios e ressuscitando mortos. Contudo, no
final de sua vida ele angariou inimigos, que o entregaram aos romanos, para que
fosse julgado. Depois de deixar esse mundo, ele retornou para encontrar seus
seguidores e convencê-los de que não estava morto, mais vivendo num reino
celestial.
Essa história
lhe soa familiar? Quem você acha que é esse homem? Seu nome era Apolônio de
Tiana, filósofo pagão e adorador de deuses pagãos. Sua história foi registrada
por um de seus discípulos chamado Filóstrato, e temos essa obra até hoje,
chamada de A vida de Apolônio de Tiana. Esse foi apenas um dos homens
supostamente divinos da mesma época de Jesus Cristo.
Um resumo de Jesus
pode ser que ele pregou palavras amáveis sobre a Terra, foi condenado por isto,
morreu crucificado, ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus. Basicamente,
este é o relato que temos sobre Jesus Cristo.
No entanto,
existem algumas pendências sobre essa história, que iremos analisar aqui. Após
um resumo da vida de Jesus, vamos voltar um pouco no tempo e ver o que
realmente aconteceu. Voltamos aos primeiros cem anos da era cristã. Se diz que
Jesus viveu nesta época, nas primeiras décadas do primeiro século, morrendo por
volta do ano trinta e três. Dos evangelhos que apareceram depois, Marcos foi o
primeiro, e os outros três são claramente guiados por Marcos. Marcos fala da
destruição do templo judeu, que ocorreu no ano 70. Então, os evangelhos
surgiram depois disto, provavelmente muito mais tarde. Entre isto, existe um
vazio de quatro décadas ou mais.
A maioria do
que sabemos deste período, provém de um homem chamado Paulo, que começou após
ter uma suposta visão de Cristo. Paulo disse que o Senhor lhe disse para
difundir a palavra de Cristo. Paulo era um pouco rígido, porém, a salvação que
difundia de Deus, que ele chamava de Jesus Cristo, era muito popular. Paulo
viajou muito em seu caminho, deixando vários grupos de novos cristãos, que
formavam a primeira igreja cristã. Também escreveu muitas cartas aos cristãos,
resultando em mais de oitenta mil palavras sobre a religião cristã. Estes
documentos representam quase tudo o que temos sobre a história do cristianismo
durante estas décadas desconhecidas.
E aqui está
algo interessante, se Jesus foi um ser humano, que viveu recentemente, parece
que ninguém contou a Paulo. Paulo nunca ouviu sobre Maria, José, Belém,
Herodes, João Batista, nem sobre os milagres, nunca citou nada sobre o que
Jesus disse. Nunca mencionou sobre nenhum ministério que Jesus fez, nem sobre a
entrada em Jerusalém, Pôncio Pilatos, o julgamento de Jesus. Paulo parece não
saber nada do que agora consideramos a história de Jesus. Exceto pelos três
ultimo acontecimentos. E inclusive esses, Paulo não os situa na Terra. Tal como
outros deuses salvadores da história, o salvador que Paulo cita morreu,
ressuscitou e subiu aos céus, a maneira dos relatos místicos. Veja por exemplo
a Carta aos Hebreus: Se Jesus ouvesse
estado sobre a Terra, ele nem sequer havia sido um sacerdote. Hb 8;4
Paulo parece
nem ter imaginado que Jesus esteve na Terra, e este é o único vínculo entre o
tempo que é dado da vida de Jesus, e o surgimento dos primeiros evangelhos
contando esta história. Este é um dos motivos que nunca se ouve líderes
cristãos falando dos primeiros anos do cristianismo. Assim que se junta os
dados, a história é que Jesus viveu; todo mundo esqueceu por décadas; e logo
recordaram. Mais a suposição é ainda mais estável que isto, pois literatura
alegórica era extremamente comum naquela época.
Segundo Alan
Dundes, professor de folclore da Universidade de Berkeley, existem muitos
evangelhos desconhecidos, os chamados evangelhos apócrifos, os quais foram
claramente folclóricos demais, e que se descartou pois eram descritos coisas
impossíveis de estarem corretas. Porém muitas contem histórias parecidas com as
dos quatro evangelhos como caminhas sobre a água e a ressurreição, mais outras
não chegaram as nossas línguas. Também ouve tentativas de desmistificação por
jesuítas e outros intelectuais.
O pesquisador
e historiador Robert M. Price, cita alguns exemplos como o de César Augusto: Sabemos que ouve um César Augusto, que
estava muito relacionado com a história deste tempo, e que é citado por
inúmeros historiadores da época. Mais nestes dois pontos, Jesus parece estar
removido da história. Suas histórias ou pertencem a mitos como a morte dos
primogênitos, ou contem uma enorme improbabilidade, tais como o Supremo
Conselho Judeu se reunindo nas vésperas da Páscoa ou Pôncio Pilatos deixando livre
um conhecido assassino romano como era Barrabás, deixando Jesus ser ‘jogado’ a
multidão. Isto desafia qualquer tipo de comparação histórica. Então você
percebe que havia outros judeus e cristãos que acreditavam que Jesus morreu um
século antes do primeiro ano do cristianismo, sobre o reinado de Alexandre. Ou
o Evangelho de Pedro, que diz que foi Herodes quem o matou.
Isso nos faz
perguntarmo-nos se Jesus de fato existiu, ou se alguém tentou pôr uma figura,
originalmente um mito, dentro da história? A história dos evangelhos é única e
dogmaticamente verdadeira?
Vamos ver um
pouco a história de alguns deuses antigos, e que talvez nos soam familiares.
Começaremos pelo Egito, com a história do deus solar Hórus de 3.000 A.C. e
descrita pelo livro dos mortos em 1.200 A.C.:
Horús nasceu
em 25 de dezembro da deusa Íris. Seu nascimento foi acompanhado de uma estrela
no oriente que por sua vez foi seguida de três reis. Aos 12 anos Hórus era uma
criança prodígio. Aos 30 anos foi batizado por uma figura conhecida como Anup,
e assim começou seu ministério. Hórus teve 12 discípulos que viajaram com ele,
fazendo milagre tais como curar os enfermos e andar sobre as águas. Hórus
também era conhecido por diversos nomes como A verdade, A Luz do Mundo, O Filho
Adorado de Deus, O bom Pastor. Depois de ter sido traído por Tifão, Horús foi
crucificado, enterrado por três dias e então ressuscitou.
Esses
atributos de Hórus parecem influenciar muitas culturas e muitos outros deuses:
Atís
na Grécia 1.200 A.C. da Firígea, nasceu de uma virgem, bem como em 25 de
dezembro, foi crucificado e ressuscitou ao terceiro dia.
Krishna na Índia, 900 A.C. nasceu
de uma virgem chamada Devaki, uma estrela acompanhou sua chegada. Fez milagres
junto aos seus discípulos e após sua morte ressuscita.
Dionysus da Grécia, 500 A.C.
nasceu de uma virgem em 25 de dezembro, foi um professor Pelegrino que operava
milagres, como transformar água em vinho e é referenciado como ‘Rei dos Reis’,
‘Filho Unigênito de Deus’, ‘Início e o Fim’.
Mitra na Pérsia, 1.200 A.C. nasceu
de uma virgem em 25 de dezembro, teve 12 discípulos e fazia milagres, e após
sua morte ressuscita.
O que importa
salientar é que existiram inúmeros salvadores ao longo da história, que
preencheram as mesmas características de Jesus Cristo.
Outro impasse
que nos aparece ao estudar os evangelhos é a discordância entre eles próprios,
por exemplo, Mateus e Lucas não chegam a um acordo sobre a árvore genealógica
de Jesus, Mateus diz que: 1:2-17”Abraão gerou a Isaque, Isaque gerou a Jacó,
Jacó gerou a Judá e a seus irmãos. (...) Eliúde gerou a Eleazar, Eleazar gerou
a Matã, Matã gerou a Jacó, Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu
Jesus, que se chama o Cristo.” ...
Já Lucas diz que: 4:23-38 ‘’Era,
como se cuidava, filho de José, filho de Heli, filho de Matã, filho de Levi,
(...) Filho de Enos, filho de Sete, filho de Adão, filho de Deus”
Aliás, o
lendário nascimento de Jesus, em Belém, seguido da morte de centenas de
crianças por Herodes, é contraditório. Os escritores dos evangelhos tinham um
problema, uma profecia do Antigo Testamento, dizia que o Messias deveria nascer
em Belém( Miquéias 5,2), levando os judeus a esperança de que o prometido
Messias tinha que nascer em Belém. À luz desta profecia, o Evangelho de João
afirma textualmente que seus seguidores ficaram surpresos por ele não ter
nascido em Belém.
Mateus e Lucas
lidam com o problema de outra forma, concluindo que Jesus tinha que nascer em
Belém, mas chegaram a essa conclusão por caminhos diferentes. Mateus coloca Maria
e José em Belém desde sempre, tendo mudado para Nazaré só muito tempo depois,
na volta do Egito, para aonde tinham fugido do rei Herodes. Lucas por outro
lado admite que Maria e José moravam em Nazaré, antes de Jesus nascer. Como
então levá-los a Belém no momento crucial para cumprir a profecia? Lucas diz
que na época que Quirino era governador da Síria, César Augusto ordenou a
realização de um censo, com fins tributários. ‘José era da casa e da linhagem
de Davi’, portanto, deveria ir para a cidade de Davi, que era chamada Belém.
Deve ter sido
uma boa solução dos autores, exceto que do ponto de vista histórico, ela é
completamente absurda. Davi, se existiu, viveu quase mil anos atrás de Maria e
José. Por que então os romanos teriam exigido que José voltasse para uma cidade
aonde teria um ancestral vivido milênio antes?
Além do mais,
Lucas confunde as datas, mencionado impensadamente eventos que qualquer
estagiário de história seria capaz de verificar. Houve mesmo um censo convocado
pelo governador Quirino, um censo localizado, não um que tivesse sido declarado
por César Augusto para o império inteiro. Mais ele aconteceu tarde demais: em 6
D.C. bem depois da morte de Herodes.
Esta é apenas
uma das centenas de contradições do Novo Testamento. Ninguém sabe ao certo quem
escreveu os Evangelhos. Mas eles certamente não conheceram Jesus pessoalmente.
Boa parte do que escreveram não representava de maneira alguma um registro da
história, mais uma simples reciclagem do Antigo Testamento, devotamente
convencidos de que a vida de Jesus tinha que cumprir as antigas profecias.
Mas o que
importa pra nós hoje é a Boa Nova que os Evangelhos nos trazem, Jesus é bom, e
nos ensinou somente o bem, certo? Nem tanto, ao que a próprio Novo Testamento
nos traz.
Imagine que
você receba um amigo que está em sua cidade de passagem, é o que mostra já no
início do Evangelho de Mateus, ele veio lhe trazer paz, certo? Vamos analisar
uma passagem: Não penseis que vim trazer
paz a terra. Não vim trazer paz, mas a espada. Com efeito, vim jogar o homem
contra seu pai, a filha a sua mãe, e a nora a sua sogra. Os inimigos dos
homens, serão seus próprios familiares...Aquele que toma sua cruz e não me
segue, não é digno de mim... Mt 10:34
É uma passagem
que parece que nunca ouvimos de religiosos, talvez por que ela nos demonstra
alguém a quem você deve seguir, caso contrário, não é digno do mesmo.
Um pouco mais
adiante, temos o lançamento de uma maldição sobre uma figueira, o motivo
principal: ela não produzir frutos. Mt 21: 18
Mais adiante,
o Evangelho de Marcos algumas surpresas. Em uma passagem sobre os escândalos,
Jesus cita uma forma de não nos escandalizarmos: Se tua mãe te escandalizar, corte-a, melhor é entrares mutilado na
vida eterna, do que tendo as duas mãos, ires para o fogo eterno. ..Se teu olho
te escandalizar, arranque-o, melhor é entrares na vida eterna com um olho, do
que tendo os dois ires para o inferno, aonde o verme não morre, e o fogo não se
extingue...Mc 9: 43
No Evangelho
de Lucas, encontra-se uma passagem que pode ser considerada no mínimo cruel,
ditatorial, e imoral: Quanto aos meus
inimigos, que não querem que eu reine sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os em
minha presença.Lc 19: 26
Dificilmente
imaginaríamos isto de alguém que veio trazer o amor e paz. Talvez por isto, que
se você encontra um religioso, ele iria contorcer-se para poder explicar estas
passagens, que o próprio Jesus mandou que nenhuma palavra poderá ser retirada
até sua volta Mc 13: 31. Assim como dificilmente você encontra um sacerdote que
lhe contará estas partes. Mais fácil será encontrar um teólogo fazendo um
malabarismo mental para encaixar tudo isto em um sentido ‘bom e sublime’.