terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Um evangelho que não nos foi contado



Apresentarei aqui alguns impasses que talvez nunca nos demos conta, sobre um dos homens mais falados no mundo.
Vou descrever a vocês a história de um homem: Antes mesmo de ele nascer, já se sabia que ele seria uma pessoa especial. Um ser sobrenatural informou sua mãe que o filho que ela iria conceber não seria um mero mortal, mas um ser divino. Nasceu de maneira milagrosa e se tornou um jovem inusitadamente precoce. Quando adulto deixou sua casa e se tornou um pregador itinerante, incitando seus ouvintes a viver não pelos bens matérias desse mundo, mas por valores espirituais. Arrebanhou diversos discípulos. Provou que era divino por meio de milagres, curando enfermos, exorcizando demônios e ressuscitando mortos. Contudo, no final de sua vida ele angariou inimigos, que o entregaram aos romanos, para que fosse julgado. Depois de deixar esse mundo, ele retornou para encontrar seus seguidores e convencê-los de que não estava morto, mais vivendo num reino celestial.
Essa história lhe soa familiar? Quem você acha que é esse homem? Seu nome era Apolônio de Tiana, filósofo pagão e adorador de deuses pagãos. Sua história foi registrada por um de seus discípulos chamado Filóstrato, e temos essa obra até hoje, chamada de A vida de Apolônio de Tiana. Esse foi apenas um dos homens supostamente divinos da mesma época de Jesus Cristo.
Um resumo de Jesus pode ser que ele pregou palavras amáveis sobre a Terra, foi condenado por isto, morreu crucificado, ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus. Basicamente, este é o relato que temos sobre Jesus Cristo.
No entanto, existem algumas pendências sobre essa história, que iremos analisar aqui. Após um resumo da vida de Jesus, vamos voltar um pouco no tempo e ver o que realmente aconteceu. Voltamos aos primeiros cem anos da era cristã. Se diz que Jesus viveu nesta época, nas primeiras décadas do primeiro século, morrendo por volta do ano trinta e três. Dos evangelhos que apareceram depois, Marcos foi o primeiro, e os outros três são claramente guiados por Marcos. Marcos fala da destruição do templo judeu, que ocorreu no ano 70. Então, os evangelhos surgiram depois disto, provavelmente muito mais tarde. Entre isto, existe um vazio de quatro décadas ou mais.
A maioria do que sabemos deste período, provém de um homem chamado Paulo, que começou após ter uma suposta visão de Cristo. Paulo disse que o Senhor lhe disse para difundir a palavra de Cristo. Paulo era um pouco rígido, porém, a salvação que difundia de Deus, que ele chamava de Jesus Cristo, era muito popular. Paulo viajou muito em seu caminho, deixando vários grupos de novos cristãos, que formavam a primeira igreja cristã. Também escreveu muitas cartas aos cristãos, resultando em mais de oitenta mil palavras sobre a religião cristã. Estes documentos representam quase tudo o que temos sobre a história do cristianismo durante estas décadas desconhecidas.
E aqui está algo interessante, se Jesus foi um ser humano, que viveu recentemente, parece que ninguém contou a Paulo. Paulo nunca ouviu sobre Maria, José, Belém, Herodes, João Batista, nem sobre os milagres, nunca citou nada sobre o que Jesus disse. Nunca mencionou sobre nenhum ministério que Jesus fez, nem sobre a entrada em Jerusalém, Pôncio Pilatos, o julgamento de Jesus. Paulo parece não saber nada do que agora consideramos a história de Jesus. Exceto pelos três ultimo acontecimentos. E inclusive esses, Paulo não os situa na Terra. Tal como outros deuses salvadores da história, o salvador que Paulo cita morreu, ressuscitou e subiu aos céus, a maneira dos relatos místicos. Veja por exemplo a Carta aos Hebreus: Se Jesus ouvesse estado sobre a Terra, ele nem sequer havia sido um sacerdote. Hb 8;4
Paulo parece nem ter imaginado que Jesus esteve na Terra, e este é o único vínculo entre o tempo que é dado da vida de Jesus, e o surgimento dos primeiros evangelhos contando esta história. Este é um dos motivos que nunca se ouve líderes cristãos falando dos primeiros anos do cristianismo. Assim que se junta os dados, a história é que Jesus viveu; todo mundo esqueceu por décadas; e logo recordaram. Mais a suposição é ainda mais estável que isto, pois literatura alegórica era extremamente comum naquela época.
Segundo Alan Dundes, professor de folclore da Universidade de Berkeley, existem muitos evangelhos desconhecidos, os chamados evangelhos apócrifos, os quais foram claramente folclóricos demais, e que se descartou pois eram descritos coisas impossíveis de estarem corretas. Porém muitas contem histórias parecidas com as dos quatro evangelhos como caminhas sobre a água e a ressurreição, mais outras não chegaram as nossas línguas. Também ouve tentativas de desmistificação por jesuítas e outros intelectuais.
O pesquisador e historiador Robert M. Price, cita alguns  exemplos como o de César Augusto: Sabemos que ouve um César Augusto, que estava muito relacionado com a história deste tempo, e que é citado por inúmeros historiadores da época. Mais nestes dois pontos, Jesus parece estar removido da história. Suas histórias ou pertencem a mitos como a morte dos primogênitos, ou contem uma enorme improbabilidade, tais como o Supremo Conselho Judeu se reunindo nas vésperas da Páscoa ou Pôncio Pilatos deixando livre um conhecido assassino romano como era Barrabás, deixando Jesus ser ‘jogado’ a multidão. Isto desafia qualquer tipo de comparação histórica. Então você percebe que havia outros judeus e cristãos que acreditavam que Jesus morreu um século antes do primeiro ano do cristianismo, sobre o reinado de Alexandre. Ou o Evangelho de Pedro, que diz que foi Herodes quem o matou.
Isso nos faz perguntarmo-nos se Jesus de fato existiu, ou se alguém tentou pôr uma figura, originalmente um mito, dentro da história? A história dos evangelhos é única e dogmaticamente verdadeira?
Vamos ver um pouco a história de alguns deuses antigos, e que talvez nos soam familiares. Começaremos pelo Egito, com a história do deus solar Hórus de 3.000 A.C. e descrita pelo livro dos mortos em 1.200 A.C.:
Horús nasceu em 25 de dezembro da deusa Íris. Seu nascimento foi acompanhado de uma estrela no oriente que por sua vez foi seguida de três reis. Aos 12 anos Hórus era uma criança prodígio. Aos 30 anos foi batizado por uma figura conhecida como Anup, e assim começou seu ministério. Hórus teve 12 discípulos que viajaram com ele, fazendo milagre tais como curar os enfermos e andar sobre as águas. Hórus também era conhecido por diversos nomes como A verdade, A Luz do Mundo, O Filho Adorado de Deus, O bom Pastor. Depois de ter sido traído por Tifão, Horús foi crucificado, enterrado por três dias e então ressuscitou.
Esses atributos de Hórus parecem influenciar muitas culturas e muitos outros deuses:
 Atís na Grécia 1.200 A.C. da Firígea, nasceu de uma virgem, bem como em 25 de dezembro, foi crucificado e ressuscitou ao terceiro dia.

           Krishna na Índia, 900 A.C. nasceu de uma virgem chamada Devaki, uma estrela acompanhou sua chegada. Fez milagres junto aos seus discípulos e após sua morte ressuscita.

           Dionysus da Grécia, 500 A.C. nasceu de uma virgem em 25 de dezembro, foi um professor Pelegrino que operava milagres, como transformar água em vinho e é referenciado como ‘Rei dos Reis’, ‘Filho Unigênito de Deus’, ‘Início e o Fim’.

          Mitra na Pérsia, 1.200 A.C. nasceu de uma virgem em 25 de dezembro, teve 12 discípulos e fazia milagres, e após sua morte ressuscita. 

O que importa salientar é que existiram inúmeros salvadores ao longo da história, que preencheram as mesmas características de Jesus Cristo.
Outro impasse que nos aparece ao estudar os evangelhos é a discordância entre eles próprios, por exemplo, Mateus e Lucas não chegam a um acordo sobre a árvore genealógica de Jesus, Mateus diz que: 1:2-17”Abraão gerou a Isaque, Isaque gerou a Jacó, Jacó gerou a Judá e a seus irmãos. (...) Eliúde gerou a Eleazar, Eleazar gerou a Matã, Matã gerou a Jacó, Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo.” ...
Já Lucas diz que: 4:23-38 ‘’Era, como se cuidava, filho de José, filho de Heli, filho de Matã, filho de Levi, (...) Filho de Enos, filho de Sete, filho de Adão, filho de Deus”
Aliás, o lendário nascimento de Jesus, em Belém, seguido da morte de centenas de crianças por Herodes, é contraditório. Os escritores dos evangelhos tinham um problema, uma profecia do Antigo Testamento, dizia que o Messias deveria nascer em Belém( Miquéias 5,2), levando os judeus a esperança de que o prometido Messias tinha que nascer em Belém. À luz desta profecia, o Evangelho de João afirma textualmente que seus seguidores ficaram surpresos por ele não ter nascido em Belém.
Mateus e Lucas lidam com o problema de outra forma, concluindo que Jesus tinha que nascer em Belém, mas chegaram a essa conclusão por caminhos diferentes. Mateus coloca Maria e José em Belém desde sempre, tendo mudado para Nazaré só muito tempo depois, na volta do Egito, para aonde tinham fugido do rei Herodes. Lucas por outro lado admite que Maria e José moravam em Nazaré, antes de Jesus nascer. Como então levá-los a Belém no momento crucial para cumprir a profecia? Lucas diz que na época que Quirino era governador da Síria, César Augusto ordenou a realização de um censo, com fins tributários. ‘José era da casa e da linhagem de Davi’, portanto, deveria ir para a cidade de Davi, que era chamada Belém.
Deve ter sido uma boa solução dos autores, exceto que do ponto de vista histórico, ela é completamente absurda. Davi, se existiu, viveu quase mil anos atrás de Maria e José. Por que então os romanos teriam exigido que José voltasse para uma cidade aonde teria um ancestral vivido milênio antes?
Além do mais, Lucas confunde as datas, mencionado impensadamente eventos que qualquer estagiário de história seria capaz de verificar. Houve mesmo um censo convocado pelo governador Quirino, um censo localizado, não um que tivesse sido declarado por César Augusto para o império inteiro. Mais ele aconteceu tarde demais: em 6 D.C. bem depois da morte de Herodes.
Esta é apenas uma das centenas de contradições do Novo Testamento. Ninguém sabe ao certo quem escreveu os Evangelhos. Mas eles certamente não conheceram Jesus pessoalmente. Boa parte do que escreveram não representava de maneira alguma um registro da história, mais uma simples reciclagem do Antigo Testamento, devotamente convencidos de que a vida de Jesus tinha que cumprir as antigas profecias.
Mas o que importa pra nós hoje é a Boa Nova que os Evangelhos nos trazem, Jesus é bom, e nos ensinou somente o bem, certo? Nem tanto, ao que a próprio Novo Testamento nos traz.
Imagine que você receba um amigo que está em sua cidade de passagem, é o que mostra já no início do Evangelho de Mateus, ele veio lhe trazer paz, certo? Vamos analisar uma passagem: Não penseis que vim trazer paz a terra. Não vim trazer paz, mas a espada. Com efeito, vim jogar o homem contra seu pai, a filha a sua mãe, e a nora a sua sogra. Os inimigos dos homens, serão seus próprios familiares...Aquele que toma sua cruz e não me segue, não é digno de mim... Mt 10:34
É uma passagem que parece que nunca ouvimos de religiosos, talvez por que ela nos demonstra alguém a quem você deve seguir, caso contrário, não é digno do mesmo.
Um pouco mais adiante, temos o lançamento de uma maldição sobre uma figueira, o motivo principal: ela não produzir frutos. Mt 21: 18
Mais adiante, o Evangelho de Marcos algumas surpresas. Em uma passagem sobre os escândalos, Jesus cita uma forma de não nos escandalizarmos: Se tua mãe te escandalizar, corte-a, melhor é entrares mutilado na vida eterna, do que tendo as duas mãos, ires para o fogo eterno. ..Se teu olho te escandalizar, arranque-o, melhor é entrares na vida eterna com um olho, do que tendo os dois ires para o inferno, aonde o verme não morre, e o fogo não se extingue...Mc 9: 43
No Evangelho de Lucas, encontra-se uma passagem que pode ser considerada no mínimo cruel, ditatorial, e imoral: Quanto aos meus inimigos, que não querem que eu reine sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os em minha presença.Lc 19: 26
Dificilmente imaginaríamos isto de alguém que veio trazer o amor e paz. Talvez por isto, que se você encontra um religioso, ele iria contorcer-se para poder explicar estas passagens, que o próprio Jesus mandou que nenhuma palavra poderá ser retirada até sua volta Mc 13: 31. Assim como dificilmente você encontra um sacerdote que lhe contará estas partes. Mais fácil será encontrar um teólogo fazendo um malabarismo mental para encaixar tudo isto em um sentido ‘bom e sublime’.







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