terça-feira, 12 de maio de 2015

O assassinato de blogueiros ateus em Bangladesh.



Quando silenciamos alguém, nos tornamos prisioneiros de nossa própria ação. O direito de falar deve ser o mesmo do ouvinte de ouvir e dar sua resposta. Rosa Luxemburgo dizia que a liberdade de expressão é insignificante, a não ser que garanta a liberdade de quem pensa diferente.
 Não sei se teria muitas palavras para resumir hoje a morte de alguém que poderia muito bem ser eu próprio. Ananta Bijoy Das, de 33 anos, é o terceiro blogueiro vítima de radicais islâmicos em menos de poucos meses. Seu maior crime: ser escritor de um blog ateu em Bangladesh. Ananta mantinha além de seu próprio blog, textos para o site http://www.mukto-mona.com/. A facção terrorista Al Queda assumiu a autoria do assassinato que se deu de forma brutal com várias facadas. Ateu militante, seus textos sobre filosofia e direitos humanos eram visualizados todos os dias. Segundo os islâmicos, Ananta teria insultado ao profeta Maomé e ao Islã. Bangladesh, país de maioria islâmica, mas considerado um Estado Laico, já teve o históricos de massacres coordenados desde mafiosos como Henry Kissinger, até por seus próprios governantes. O país vive sobre tensão de grupos de direita que ameaçam completamente quem quiserem e aonde quiseres.
Este caso assim como os outros tem me causado um impacto de pensamento do tipo: Este homem poderia ser eu. O que me torna diferente? Mesmo ateus não coordenarem assassinatos em nome do ateísmo, não bombardearem prédios, não queimarem pessoas e outras centenas de crimes horríveis dos quais a religião não consegue livrar-se, ser declaradamente um ateu em nosso país e militar em combate a religião é uma vulnerabilidade que encara desde rostos virados até o preconceito e longos sermões sobre temas como a moralidade. Particularmente, espero mais de religiosos no meu caso. Mesmo que já tenha recebido ameaças por e-mails, a chatice de estar na mira de algumas pessoas mesmo vivendo sobre um Estado que se diz laico, é algo sempre arriscado. O velho ditado quem fala o que quer ouve o que não quer, hoje é substituído pela lei do olho por olho, dente por dente. Minha opinião é suficiente para mim e me asseguro o direito de defende-la sempre que posso. Para os que discordam disto, fiquem livres para críticas. A morte de alguém, jamais é justificada desta forma. Por milênios, a religião tem feito o contrário do seu prometido, enviando sangue e um belo ‘’cale a boca’’ para quem decidir ir contra sua soberania. Um ato covarde, delirante e criminoso, de uma sociedade que ainda guarda resquícios de uma negra Idade Média. Colocar alguém para decidir por você o que você deve ou não ler, deve ou não ouvir, significa colocar toda sua liberdade água abaixo.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Analisando o mistério dos Santos Incorruptos: Da fé à realidade.



                 Corpo de Santa Zita. Pesquisas recentes mostram que o ambiente proporcionou uma  duração de sua incorrupção

Os Incorruptos como são chamados, foram por muito tempo relíquias de alto valor dentro da religião Católica. O costume começou na Europa durante a Idade Média. Os europeus costumavam desenterrar os corpos dos que consideravam servos fiéis de Deus neste mundo, para coletar relíquias, pedaços de ossos que eram expostos em relicários pelo mundo inteiro. Ao desenterrar estes corpos em mosteiros, cemitérios, igrejas, muitos corpos encontravam-se em perfeito estado de conservação. O fenômeno era considerado um milagre do próprio Deus em honra da santidade destas pessoas. Outros diziam que os corpos estavam incorruptos para aguardarem a volta de Jesus, aonde ressuscitariam. Pessoas de todo mundo, têm visitado igrejas contendo redomas de vidro com estes santos. Alguns exemplos são São Vicente de Paula, Santa Bernadete, Santa Rita de Cássia. Muitos destes cadáveres também são conhecidos por exalarem um forte odor, o que para muitos é sinal de santidade. Por anos a Igreja Católica reconheceu a incorrupção como prova de santidade.


Livros inteiros dão destaque a este fenômeno. A ciência não satisfez muito com esta explicação e resolveu investigar vários destes corpos. Heather Pringle e Roger Webber são dos pesquisadores destes fenômenos. Webber conta o caso de uma matrona da época vitoriana, encontrada incorrupta e que falecera em 1839. Trajada com uma touca branca, ela contemplava o mundo com o rosto de quem não queria partir. Os dois examinaram seu corpo, acostumados a encontrar caixões de até 250 anos incorruptos. Esta senhora falecera na Inglaterra, local aonde não se encontram muitos destes corpos. Quando eles e seus colegas escavaram o túmulo, já haviam notado a umidade excessiva no local. A chave era mais simples. Na época vitoriana, era comum famílias mais ricas pagarem pesadas urnas de carvalho ou olmo, calafetadas com piche sueco, e revestidas por dentro e por fora com chumbo pesado. Estes caixões eram tidos como indestrutíveis, mas na maioria dos casos o chumbo oxigenava e sofria corrosão, eliminando assim agentes de corrupção. Entretanto, se uma destas urnas era enterrada em um solo com argila pesada, formava-se um vácuo a sua volta, lacrando o cadáver contra água e outras bactérias responsáveis pelo apodrecimento do corpo.
 
Entre os católicos zelosos, muitos cultos eram gerados em torno dos restos mortais de seus santos. Tomás de Aquino dizia que o próprio Deus honra essas relíquias. Santa Zita é um claro exemplo, após ter seu corpo exumado, católicos disseram que cegos enxergavam, paralíticos andavam e várias pessoas eram curadas. O corpo de Santa Zita não revela qualquer sinal de decomposição. Ezio Fulcheri é perito em santos incorruptos, ou como ele prefere chamar, múmias dos santos. Patologista, ele dirige um laboratório em um dos maiores e mais movimentados hospitais da Europa. Fulcheri juntou-se com um egiptólogo chamado Monsignor Gianfranco Nolli, inspetor do Museu Egípcio do Vaticano. Uma outra profissão sua é trabalhar na causa dos supostos milagres atribuídos aos santos, incluindo a incorrupção. Durante seu trabalho, Nolli foi chamado para que ele preservasse o corpo do cardeal ucraniano Josef Slipyj. Transformando a cripta aonde Slipyj estava enterrado em um laboratório, Fulcheri, Noli e mais uma equipe de 20 pesquisadores retiraram o corpo ainda intacto do cardeal. Seguindo os métodos egípcios, a equipe removeu o cérebro, as vísceras e limpou as cavidades internas do cardeal. Imergiram então o cadáver sobre um banho químico destinado a deter a decomposição enzimática. Durante os 4 meses seguintes, a equipe imergiu o cardeal em um série de soluções químicas, registrando cada passo com fotografias. Após o processo, o corpo do cardeal foi levado para Lviv, capital da Ucrânia, afim de ser canonizado.
             Corpo do cardeal Josef Slipyj, embalsamado por Gianfranco Nolli e sua equipe. Apesar disto, seu corpo ainda é venerado e sua preservação é para os fiéis um sinal divino.

A tradição popular européia de preservar seus corpos começou por volta do século XVII, aonde anatomistas e químicos faziam experiências de preservação a curto prazo. Mais para frente, Fulcheri foi novamente convidado para analisar o corpo de Santa Margarida de Cortona, sepultada no século XIII e incorrupta desde então. A congregação para doutrina da fé queria tratar de algumas falsas relíquias de uma vez por todas. Fulcheri examinou todos os registros históricos e eclesiásticos da época e fez uma descoberta interessante. Santa Margarida era uma mulher admirável na sua cidade, e o povo de Cortona tinham a firme determinação de preservar seu corpo, para que assim Deus pudesse continuar operando milagres na cidade. Os que fizeram a preservação da santa, extrairam seus órgãos internos e embebedaram sua pele com ungüentos e loções fragrantes. Esses cristãos passavam vários ungüentos nos seus santos com preservativos naturais e enrolavam-nos em panos de linho. Em 1697, por exemplo, um cirurgião italiano deixou uma lista de 27 ervas e drogas que usou para preservar o corpo de São Gregório Barbarigo.

                       Corpo de Santa Margarida de Cortona, uma outra mumificação da Idade Média

Outros casos como o de Santa Zita, Santa Savina, estão incorruptos devido ao próprio local em que foram sepultados. Em vez de cemitérios, estes santos deveriam descansar mais próximos dos altares das igrejas, em criptas. As criptas eram escavadas em solo frio ou forradas com pedra alcalina, um propício ambiente para a mumificação. Quando retirados destas, a incorrupção começava a sair do previsto, os corpos começavam a escurecer a apodrecerem, foi o caso de São Crispim. Após ser retirado da urna, o corpo do santo começou a escurecer em poucas semanas. Hoje ele está coberto por uma ‘’segunda capa ‘’feita de prata.
 
               Redoma com o corpo de São Crispim. O fenômeno foi considerado um fiasco quando tentando manter a ideia dele estar incorrupto, mudaram-no de redoma e o corpo apodreceu. Uma urna de prata agora cobre a ideia de seu corpo estar supostamente incorrupto.



Santa Clara de Assis foi outro caso de uma santa incorrupta por mais de 700 anos. A equipe de Nolli, notou ao visitar a santa, que sua pele estava marrom e opaca. Nolli conseguiu uma permissão para analisar o corpo da santa junto com Fulcheri e sua equipe. Em lugar da pele macia, a equipe encontrou uma pele feita de couro, uma máscara de prata e um manequim da santa feita do mesmo material. Dentro dele estavam os ossos da santa reunidos com fios de prata, tecido e piche. As irmãs clarissas não tiveram a intenção de enganar. Como adoravam a santa, pegaram seus ossos e criaram um corpo a sua volta. 
            Santa Clara de Assis. Seu rosto é feito a partir de uma máscara de prata. Muito diferente de uma incorrupção que seria divina.

Um dos corpos que mais é visitado no mundo é o de Santa Bernadete Soubirous. Seu corpo parece estar dormindo totalmente intacto desde sua morte em 1879. O problema é que sua incorrupção não é devido a mãos divinas. Seu rosto está coberto com uma mascara de cera, assim como suas mãos.  Quando seu corpo ainda repousava numa redoma de vidro, ao ser retirado pela última vez em 1925, começou a escurecer e incluindo uma costela da santa deslocou-se do corpo, todo o corpo foi enfaixado. Seu nariz afundou-se no crânio, levando assim a um novo processo para que a santa parecesse intacta e flácida. 
              Santa Bernadete parece repousar em um profundo sono. Este é moldado por inúmeros processos que incluem várias camadas de cera, o detalhe pode ser notado nas unhas.

João XXIII, o doente Papa que teve forças para começar o Concílio Ecumênico Vaticano II, também encontra-se exposto em uma redoma de vidro recebendo venerações diárias. O caixão do papa permaneceu semanas debaixo d’água, após uma inundação em Roma. O problema é que todos os papas são embalsamados, sendo assim, mostrá-lo como um milagre é algo contraditório. 
                O Papa João XXIII não pode ser considerado incorrupto milagrosamente, pois todos os papas passam por processo de embalsamento. Mesmo assim, o ''santo'' é apresentado ao público.


Vários exemplos mais simples são encontrados, como o corpo intacto do revolucionário e herói russo Vladimir Lênin, que passa por processos anuais para sua preservação. Múmias do deserto do Atacama na América Latina. A menina de Yde, alterada pelo tempo e pelas substâncias químicas do pântano aonde foi encontrada. Corpos de alpinistas dos Andes congelados pelo extremo frio. Influenciada, talvez, por todas estas descobertas, a Igreja Católica deixou bastante de lado a prática de mostrar aos fiéis seus santos aparentemente incorruptos. A incorruptilidade não é mais aceita como forma de milagre para a canonização.
       Corpo do revolucionário Vladimir Lênin. A sua incorrupção rende minuciosos trabalhos de embalsamento anuais.