sábado, 21 de março de 2015

A história por trás dos círculos em plantações

                                          Círculo feito no município de Içara- SC





No último dia 17 de março, na cidade de Içara, em Santa Catarina, um ‘estranho’ fenômeno tem atraído e instigado várias pessoas. Um círculo feito em uma plantação de milho. Segundo o dono da plantação, muitas pessoas estiveram no local e ninguém deu uma explicação satisfatória. Inclusive um engenheiro agrônomo esteve no local, mas deixou-o sem uma explicação convincente. Segundo os moradores o mesmo fenômeno ocorreu no ano passado próximo ao local.
A história é um prato cheio para amantes de ficção científica e ufólogos. Entretanto, o mistério não é tão misterioso assim se analisado com mais cuidado. Pretendo ir até o local, mas ainda não consegui. Vou parecer arrogante para muitos, mas descarto o fenômeno com duas explicações: fraude ou fenômeno meteorológico.
A primeira explicação que vem a mente das pessoas seria que os círculos seriam produzidos por seres de outros planetas como forma de deixar alguma marca. A saga dos círculos mostra o quanto nossa mente tem poucas perspectivas e raciocínio lógico diante deste fenômeno. O fenômeno começou a ser difundido na Grã Bretanha na década de 1970. Começando por simples círculos como este de Içara, na década de 1990 já existiam várias figuras geométricas das mais diversas formas sobre milharais. Alguns do tamanho de um campo de futebol, entrelaçavam-se entre si ou formavam linhas paralelas. Fraude? Para a maioria das pessoas parecia impossível. Havia centenas deles e muitos apareciam na calada da noite em um espaço de tempo de apenas uma ou duas horas. Pessoas com alguma experiência científica analisavam os locais e não havia dúvida: O fenômeno era causado por Ufos. Os turistas da Nova Era chegavam aos bandos. Com equipamentos como gravadoras faziam vigília a noite toda. A mídia internacional fazia sua parte em um alvoroço de novos ‘especialistas’ em círculos com as mais diversas teorias. Médiuns visitavam os locais e diziam entrarem em contato com as entidades extraterrestres.
As perguntas ao Parlamento inglês chegavam em caixas. A família real chegou a consultar o Lord Solly Zuckerman, ex conselheiro científico do Ministério da Defesa. Falava-se que fantasmas estavam envolvidos, sociedades secretas. A mídia espalhafatosa e sensacionalista como o Daily Mirror contratou um fazendeiro e seu filho para fazerem os círculos para concorrerem com seu rival o Daily Express. Logo o fenômeno se espalhou pelo Canadá, Estados Unidos, Bulgária, Japão, Holanda. A explicação era que as figuras eram perfeitas demais para serem feitas por humanos.
Em 1991, Doug Bower e Dave Chorley, anunciaram que vinham fazendo os círculos em plantações há mais de quinze anos. Enquanto bebiam cerveja em um pub, acharam engraçadas as notícias sobre Ufos, e pensaram que seria legal enganaram os que tanto acreditavam nisto. No início achatavam o trigo ou milho, usando uma barra de aço que era usada como tranca da porta do pub. Mais tarde, usavam pranchas e cordas. O truque era fácil, amarravam uma corda nas pontas da prancha, e segurando a corda com as mãos achatavam o local com a prancha nos pés. A brincadeira levava poucos minutos. Depois começaram a fazer desafios entre eles.
A mídia e os ufologistas caíram direito na fraude. Enquanto cientistas davam suas opiniões, os dois continuaram planejando seus círculos. Em breve todo o sul da Inglaterra era tomado por círculos. Bower e Chorley chegaram a gravar uma mensagem numa plantação: NÓSNÃOESTAMOSSOZINHOS( se fossem ETs deveria ser: VOCÊSNÃOESTÃOSOZINHOS).
Já com idade superior aos sessenta anos, e após Bower ser flagrado por sua esposa Ilene fazendo os círculos, os dois confessaram a toda a mídia como faziam. A mídia fez pouco caso de demonstrar a fraude ao público. 

        Doug Bower e Dave Chorley demonstrando como faziam o truque


Desde então os círculos têm feito sucesso por todo mundo. Incluindo pessoas que fazem grandes concursos mundiais elegendo o melhor do mundo na arte dos desenhos em círculos. Entretanto para os fanáticos a explicação alienígena ainda existe. Os mais renomados cientistas como o físico Stephen Hawking excluem qualquer hipótese de visita extraterrestre no nosso planeta. Mesmo que elas ocorressem teríamos que nos perguntar: Por que ninguém mais vê? Por que a noite? Qual o objetivo disto? O que é mais provável: uma visita alienígena ou alguém que quer entre outros motivos, chamar atenção?
A segunda hipótese que não vem a ser tão rara é a de um redemoinho de vento que resulta no fenômeno. Conversando com um amigo meteorologista tive a confirmação de como o fenômeno ocorre e inclusive pude fotografá-lo após um forte vendaval em um capinzal. 
                O mesmo fenômeno após um redemoinho de vento. O fenômeno foi visto por vários.



terça-feira, 17 de março de 2015

O argumento do relojoeiro divino

Por milênios, nós seres humanos fomos incapazes de responder as várias questões da natureza. Furacões, terremotos, erupções, eram vistas como fúria de deuses que brincavam conosco na abóboda celeste. E por milênios, uma pergunta teve várias tentativas de respostas mais toda insatisfatórias. Por que os seres humanos e a natureza são tão complexos e belos? Este argumento é ainda utilizado por muitos religiosos para justificar a existência de um Deus, mesmo após nossa grande descoberta: A evolução.
O famoso tratado de Willian Paley parecia ter posto um fim a esta pergunta. Publicado em 1802 é a exposição mais conhecida como O Argumento do Desígnio. Até hoje é o mais influente dos argumentos a favor da existência de um Deus. Frequentemente sou perguntado: Como você pode não ver um Deus em tanta beleza e formosura da natureza? Willian Paley passou anos estudando seu argumento até propo-lo. Seu pensamento foi o seguinte:
Suponhamos que ao cruzar um descampado, eu me deparasse com uma pedra, e me perguntasse como a pedra viera dali; eu poderia muito bem responder que tanto quanto saiba, esta pedra pode estar ali desde sempre e creio que não seria fácil acusar tão resposta de absurda. Mas supomos que eu tivesse encontrado um relógio no chão e que me perguntasse como o relógio está ali. É algo muito complexo para ter surgido do ‘’nada’’, portanto tem que haver um Relojoeiro, alguém que criou este relógio. E a este Relojoeiro, Paley chamou de Deus. Isto segundo ele valia para toda a natureza. Tudo era muito bem feito, por tanto tinha que ter um Projetista.
Se tivéssemos vivido no início do século XIX, é bem provável que o argumento de Paley para o Relojoeiro fosse aceito por uma grande maioria. Entretanto, já de começo podemos ver algumas questões sobre este argumento. Ele propõe novas e mais audaciosas perguntas: Quem criou o Relojoeiro? De onde ele veio? Quem ele é?
Pela chave deste argumento ainda usado pelos famosos criacionistas, mais de 50 anos depois, Charles Darwin em 1859 publicou o livro que mudaria a história da humanidade: A Origem das Espécies. Nele Darwin propunha que não havia Projetista algum. A primeira vista isto parecia ridículo. Retire todas as peças de um relógio, e tente reconstruí-lo de forma aleatória. Apenas uma combinação lhes dará as horas. Assim que o astrônomo Fred Hoyle afirmou que as partes de um organismo vivo juntarem-se espontaneamente entre si é a mesma coisa que um furacão passar por um ferro velho e formar um Boeing 747.
Hoje a evolução é um fato questionado tanto como o fato da Terra e os outros planetas estarem orbitando o Sol, nas palavras de Richard Dawkins. E temos uma pista de como isso começou bem perto de nós. O animal que foi uma grande fonte de estudo para Charles Darwin foram os pombos. Ele percebeu que criadores de pombos podiam cruzar espécies criando assim outras variedades. Havia pombos de leque, pombos jacobinos, pombos de face curta ou de face alongada. Darwin descobriu que todos eles derivavam de uma mesma ave, um mesmo ancestral em comum, o pombo da rocha. Este esforço em criar tipos de animais diferentes chama-se Seleção Artificial. Mais Darwin pensou que o mesmo processo se dava na natureza. Mais como isso poderia acontecer sem um Projetista Divino? Darwin encontrou a pista examinando entre outros animais, os tentilhões da ilha de Galápagos. Existem cerca de 13 espécies todas com bicos diferentes, mais originárias de um mesmo ancestral. Os tentilhões exercem atividades diferentes, desde agirem como pica-paus até sanguessugas. E para cada uma dessas atividades, exigem-se um tipo diferente de bico. Este processo chama-se Seleção Natural.
A analogia preferida de Willian Paley e dos criacionistas atuais é o olho. Uma estrutura muito perfeita para surgir por acaso o que leva a uma mesma situação: Imagine que eu me depare com um cofre em um banco com diferentes combinações de 4 números. A chance que eu acerte a combinação por acaso é de uma em dez trilhões. Entretanto, imagine que cada tentativa em que eu chegue perto de algum número correto, a porta do cofre se abra um pouco. Então, é tudo ou nada.
É claro que a evolução não usa este tipo de artifício. Acertar uma senha correta por puro acaso ou fazer um olho de uma só vez, é tão improvável quanto o antigo exemplo de um macaco escrevendo uma peça de Schakespeare. Um macaco levaria o tempo da existência do universo para fazer isto simplesmente batendo nas teclas de um computador. Suponha agora que cada vez que um macaco for bater nas teclas de um computador para formar uma peça de Shakespeare, ele receba formas cumulativas em cada acerto. A chance assim passa a ser muito maior.
Assim funciona a seleção natural, um processo gradual que se dá aos poucos para se adaptar ao ambiente em que tem que viver. ‘Puxando’ de cá, ‘esticando’ de lá, a seleção natural vem por milhares de anos fazendo com que a natureza molde-se e pareça tão perfeita. E o melhor, sem um Projetista Supremo.
Como não sou biólogo, não entrarei em maiores detalhes. Mas qualquer um que pergunte a um biólogo encontrará a resposta para suas perguntas. Caindo assim por terra o argumento de Paley, nós não surgimos por acaso ou fomos criados por um Supremo Projetista. Mais sim, moldados pela própria seleção natural através de milhares e milhares de anos. Mais o que prova isto? Não seria apenas uma teoria?
Em meio acadêmico a palavra teoria não tem o mesmo propósito que conosco. Afinal a gravidade também é chamada de teoria. A evolução é hoje um fato. O que nos faz crer nela é bem diferente de uma fé ou por que fomos doutrinados assim.  São as toneladas de evidências que a provam e vem provando cada vez mais. A distribuição geográfica de animais e plantas, os fósseis, a comparação do DNA, são apenas alguns. Compare num microscópio(O que Paley teria ficado muito pasmado e admirado) a semelhança entre qualquer ser vivo. E você verá que somos todos primos, derivando todos nós de um mesmo ancestral em comum, e cada vez mais, deixando de lado como atrasada, qualquer idéia de um Projetista a não ser a própria evolução por seleção natural.



O biólogo Richard Dawkins dedicou um documentário e um livro com o nome O relojoeiro Cego, sobre o estuda desta teoria. 


quarta-feira, 11 de março de 2015

Hitler e a religião

Por mais que o tempo resolva várias questões e a história nos vem à tona, mais boatos são espalhados. Por parte dos historiadores não há muito mais o que se debater, mais por parte de muitos sim. Hitler e Stalin eram ateus, e isto justificou e motivou suas atrocidades. Isto é facilmente encontrado pela internet e em debates. O que interessa ainda mais não é se Hitler e Stalin eram ateus, mais se o ateísmo os levou as suas práticas ou se o ateísmo leva as pessoas a cometerem os mais diversos crimes.
Sobre Stalin parece não haver dúvidas de que era ateu. Estudante de um colégio ortodoxo sua mãe sempre guardou rancor de seu filho não ter se tornado padre. Stalin foi bastante rude com a Igreja Ortodoxa russa e com o cristianismo em geral, mais não há evidência que o ateísmo o levou as suas brutalidades. Já sobre Hitler a lenda dele ser ateu é bem difundida. Nascido em uma família católica, Hitler mesmo depois de ter saído do seminário de Tiflis nunca negou o catolicismo. Se não fosse católico em alguma espécie de transcendência divina ele acreditava. No livro Mein Kampf ele conta que quando soube da Primeira Grande Guerra ele caíra de joelhos e agradecera a Deus pela oportunidade de viver nesta época.
Em 1920, Hitler tinha então 31 anos, seu assessor era Rudolf Hess, futuro vice-Füher. Em uma carta ao primeiro ministro da Baviera Hess escreveu: Conheço Hitler muito bem, e sou muito próximo seu. Ele tem um caráter de honradez, cheio de bondade, e é religioso, um bom católico.
Em 1933, num discurso em Berlim Hitler disse: Estávamos convencidos de que o povo precisava e requer desta fé. Assumimos por tanto a luta contra o movimento ateísta, e não apenas com umas poucas declarações teóricas: nós os exterminaremos. Já em 1941 ele disse a seu assistente o general Gerhard Engel: Nós permaneceremos católicos.
Mesmo que ele não fosse um cristão de fé sincera, Hitler então deveria ser muito diferente para ter sido influenciado pelo ódio antissemita  de chamar os judeus de Assassinos de Cristo. Tradição está que veio da Igreja Católica desde pelo menos o século XI, e que foi pregada nos púlpitos até 1964. Num discurso em Munique em 1923, Hitler disse: A primeira coisa a fazer é resgatar a Alemanha dos judeus que estão arruinando nosso país. Queremos evitar que a Alemanha sofra, como Aquele que sofreu na cruz.
John Toland no livro Adolf Hitler: The definitivi biography escreve: Ainda era um membro em boa posição da Igreja de Roma. Apesar de detestar sua hierarquia, ele carregou consigo o ensinamento de que os judeus foram os assassinos de Cristo. O extermínio, portanto, deveria ser concretizado sem dó e menor dor na consciência...
Na verdade o ódio judeu era bem difundido na Europa, assim como a ciganos, homossexuais, negros. Martinho Lutero também foi um fervoroso antissemita. Era uma parte da cultura já enraizada e que Hitler soube usar como ninguém. É provável que ele acreditasse mesmo que aquilo deveria ser feito.
Os registros de conversas particulares e outros discursos de Hitler como estes já citados são abundantes. Como demagogo, Hitler poderia ter muito bem usado isto só como discurso seu para conquistar o povo alemão, vindo de uma mente como a dele podemos desconfiar disto também. Também Hitler pode ter usado este discurso para conquistar apoio da Igreja, o que funcionou muito bem. Benito Mussolini em 1929 assinou  junto à Igreja, o Tratado de Latrão, aonde a Santidade apoiava o fascismo. Quando Hitler em 1933 assumiu o poder, o próprio papa Pio XI assinou a concordata em que reconhecia o nazismo e onde a Igreja Católica sedia suas forças a Hitler em troca de poder doutrinar toda a Alemanha. Seu aniversário foi celebrado até sua morte por todas as igrejas alemãs. Pio XII sucessor de Pio XI dominava a maior rádio da Europa, aonde o nazismo nunca teve nenhuma crítica, e é comumente conhecido com o Papa de Hitler, por nada fazer diante das atrocidades. Os grandes pensadores ateus da Europa foram desprezados pelo regime nazista, incluindo Darwin, Freud, Einstein. 
Vários outros exemplos são dados como o juramento que os oficiais do partido e do exercido de Hitler fazia como a saudação em que a mão direita é levantada iniciava-se dizendo: Juro pelo Deus Todo Poderoso, a minha lealdade ao Führer. A inscrição Gott Mit Uns nas fivelas dos cintos nazista significavam Deus esta convosco.
Ateus podem fazer maldades, mais nunca vimos serem feitas em nome do ateísmo. Hitler, Stálin, Pol Pot, fizeram absurdos cruéis em nome de um marxismo dogmático com delírios subwagnerianos.