terça-feira, 17 de março de 2015

O argumento do relojoeiro divino

Por milênios, nós seres humanos fomos incapazes de responder as várias questões da natureza. Furacões, terremotos, erupções, eram vistas como fúria de deuses que brincavam conosco na abóboda celeste. E por milênios, uma pergunta teve várias tentativas de respostas mais toda insatisfatórias. Por que os seres humanos e a natureza são tão complexos e belos? Este argumento é ainda utilizado por muitos religiosos para justificar a existência de um Deus, mesmo após nossa grande descoberta: A evolução.
O famoso tratado de Willian Paley parecia ter posto um fim a esta pergunta. Publicado em 1802 é a exposição mais conhecida como O Argumento do Desígnio. Até hoje é o mais influente dos argumentos a favor da existência de um Deus. Frequentemente sou perguntado: Como você pode não ver um Deus em tanta beleza e formosura da natureza? Willian Paley passou anos estudando seu argumento até propo-lo. Seu pensamento foi o seguinte:
Suponhamos que ao cruzar um descampado, eu me deparasse com uma pedra, e me perguntasse como a pedra viera dali; eu poderia muito bem responder que tanto quanto saiba, esta pedra pode estar ali desde sempre e creio que não seria fácil acusar tão resposta de absurda. Mas supomos que eu tivesse encontrado um relógio no chão e que me perguntasse como o relógio está ali. É algo muito complexo para ter surgido do ‘’nada’’, portanto tem que haver um Relojoeiro, alguém que criou este relógio. E a este Relojoeiro, Paley chamou de Deus. Isto segundo ele valia para toda a natureza. Tudo era muito bem feito, por tanto tinha que ter um Projetista.
Se tivéssemos vivido no início do século XIX, é bem provável que o argumento de Paley para o Relojoeiro fosse aceito por uma grande maioria. Entretanto, já de começo podemos ver algumas questões sobre este argumento. Ele propõe novas e mais audaciosas perguntas: Quem criou o Relojoeiro? De onde ele veio? Quem ele é?
Pela chave deste argumento ainda usado pelos famosos criacionistas, mais de 50 anos depois, Charles Darwin em 1859 publicou o livro que mudaria a história da humanidade: A Origem das Espécies. Nele Darwin propunha que não havia Projetista algum. A primeira vista isto parecia ridículo. Retire todas as peças de um relógio, e tente reconstruí-lo de forma aleatória. Apenas uma combinação lhes dará as horas. Assim que o astrônomo Fred Hoyle afirmou que as partes de um organismo vivo juntarem-se espontaneamente entre si é a mesma coisa que um furacão passar por um ferro velho e formar um Boeing 747.
Hoje a evolução é um fato questionado tanto como o fato da Terra e os outros planetas estarem orbitando o Sol, nas palavras de Richard Dawkins. E temos uma pista de como isso começou bem perto de nós. O animal que foi uma grande fonte de estudo para Charles Darwin foram os pombos. Ele percebeu que criadores de pombos podiam cruzar espécies criando assim outras variedades. Havia pombos de leque, pombos jacobinos, pombos de face curta ou de face alongada. Darwin descobriu que todos eles derivavam de uma mesma ave, um mesmo ancestral em comum, o pombo da rocha. Este esforço em criar tipos de animais diferentes chama-se Seleção Artificial. Mais Darwin pensou que o mesmo processo se dava na natureza. Mais como isso poderia acontecer sem um Projetista Divino? Darwin encontrou a pista examinando entre outros animais, os tentilhões da ilha de Galápagos. Existem cerca de 13 espécies todas com bicos diferentes, mais originárias de um mesmo ancestral. Os tentilhões exercem atividades diferentes, desde agirem como pica-paus até sanguessugas. E para cada uma dessas atividades, exigem-se um tipo diferente de bico. Este processo chama-se Seleção Natural.
A analogia preferida de Willian Paley e dos criacionistas atuais é o olho. Uma estrutura muito perfeita para surgir por acaso o que leva a uma mesma situação: Imagine que eu me depare com um cofre em um banco com diferentes combinações de 4 números. A chance que eu acerte a combinação por acaso é de uma em dez trilhões. Entretanto, imagine que cada tentativa em que eu chegue perto de algum número correto, a porta do cofre se abra um pouco. Então, é tudo ou nada.
É claro que a evolução não usa este tipo de artifício. Acertar uma senha correta por puro acaso ou fazer um olho de uma só vez, é tão improvável quanto o antigo exemplo de um macaco escrevendo uma peça de Schakespeare. Um macaco levaria o tempo da existência do universo para fazer isto simplesmente batendo nas teclas de um computador. Suponha agora que cada vez que um macaco for bater nas teclas de um computador para formar uma peça de Shakespeare, ele receba formas cumulativas em cada acerto. A chance assim passa a ser muito maior.
Assim funciona a seleção natural, um processo gradual que se dá aos poucos para se adaptar ao ambiente em que tem que viver. ‘Puxando’ de cá, ‘esticando’ de lá, a seleção natural vem por milhares de anos fazendo com que a natureza molde-se e pareça tão perfeita. E o melhor, sem um Projetista Supremo.
Como não sou biólogo, não entrarei em maiores detalhes. Mas qualquer um que pergunte a um biólogo encontrará a resposta para suas perguntas. Caindo assim por terra o argumento de Paley, nós não surgimos por acaso ou fomos criados por um Supremo Projetista. Mais sim, moldados pela própria seleção natural através de milhares e milhares de anos. Mais o que prova isto? Não seria apenas uma teoria?
Em meio acadêmico a palavra teoria não tem o mesmo propósito que conosco. Afinal a gravidade também é chamada de teoria. A evolução é hoje um fato. O que nos faz crer nela é bem diferente de uma fé ou por que fomos doutrinados assim.  São as toneladas de evidências que a provam e vem provando cada vez mais. A distribuição geográfica de animais e plantas, os fósseis, a comparação do DNA, são apenas alguns. Compare num microscópio(O que Paley teria ficado muito pasmado e admirado) a semelhança entre qualquer ser vivo. E você verá que somos todos primos, derivando todos nós de um mesmo ancestral em comum, e cada vez mais, deixando de lado como atrasada, qualquer idéia de um Projetista a não ser a própria evolução por seleção natural.



O biólogo Richard Dawkins dedicou um documentário e um livro com o nome O relojoeiro Cego, sobre o estuda desta teoria. 


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