quinta-feira, 17 de março de 2016

A religião e a isenção de impostos



Daí a César o que é de César é uma famosa citação bíblica não muito praticada por religiosos no nosso país nestes dias. Em meio ao turbilhão de caos nesta época no Brasil, que mescla desde birras midiáticas, corrupções e principalmente,  os que querem tomar o poder, uma notícia passa quase que em branco por nós. Nesta quarta-feira, dia 15 de março de 2016, a PEC 133/2015, quem tem como objetivo a isenção de impostos como o IPTU ou imóveis alugados por religiosos, foi aprovada por unanimidade. A proposta ainda passará por um segundo turno de votações.
Com muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo em nosso lastimoso cotidiano, por que esta seria uma notícia importante? Em primeiro lugar por que nosso Estado é considerado laico, isto na prática nos diz que ele não escolhe religião, não a difere de mais nenhuma, nem coloca nenhuma com mais poderes que a outra. A teoria da realidade como sabemos difere-se muito. Para garantir o livre pensamento e dignidade entre uma instituição e outra é que o muro da laicidade precisa ser reforçado a cada dia. A fé é uma ‘virtude’, como sempre, muito estimada. Ela é a desculpa que senhores engravatados usam para extorquir, enganar, usar da inocência e ignorância de muitos. Ela é uma das espadas mais fortes contra o livre pensamento, a igualdade entre as pessoas e o bom convívio com seu próximo.
A bancada teocrática que manda e desmanda vários setores do nosso país, e cresce a cada dia, usa como algumas desculpas que elas prestam um grande serviço social, além da prática da caridade. Longe de deixar as igrejas fora disto, muitas fazem um excelente trabalho nestes setores, mas muitas adoram estas desculpas para a aquisição de seus céus aqui na Terra, que pode ir desde um iate até uma mansão, registrados em nome de uma instituição religiosa.
Os recursos para uma instituição religiosas vem muitas vezes, da lavagem de dinheiro e exploração da fé de inocentes, que em diversos casos pagam com suas vidas por este alto preço. Se a religião prega que haverá um Juízo Final, aonde as ‘ovelhas’ serão separadas e eles serão os escolhidos, por que querem tanto o poder neste mundo? Todo este ambiente serve de preconceito, entre os próprios religiosos, entre os que creem no que pregam e os que sabem que o que dizem é uma farsa( e digo sem medo que estes compõem a maioria ).
A desculpa da caridade vem sendo usada há séculos para o desvio de dinheiro, os que a praticam de verdade não precisam dizer para ninguém nem chamar atenção pra si mesmos. Como ateu, não vejo nenhuma diferença entre uma prática boa que eu possa fazer seu buscar vantagens em uma vida futura, sendo o que muitos religiosos que a fazem e pregam. Será que esta isenção vale também para cultos que sacrificam vítimas ou instituições que abusam de crianças? Os mesmos são religiosos, e acreditam em diversos tipos de magia e contos de fadas, só que diferentes da que você, se é religioso, acredita.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O fúnebre fim do Papa Pio XII

   
    Por séculos a Igreja Católica gaba-se exigindo suas famosas relíquias: corpos que estariam milagrosamente incorruptos. Santa Bernadete, São Vicente de Paula, Santa Clara de Assis, são alguns exemplos. Em ''Analisando o mistério dos corpos incorruptos'' http://diariodeumcetico.blogspot.com.br/2015/05/analisando-o-misterio-dos-santos.html, vimos que a incorrupção parcial ou total de um corpo é algo tão antigo quanto a humanidade. Na maioria das vezes o local aonde estes corpos foram depositados é uma das causas principais para que estes ''milagres'' sejam muito bem entendidos pela ciência. Em outras vezes, processos como a mumificação, saponificação, embalçamento, são os outros fatores.
    Neste ambiente de fanatização e superstição medieval, a Igreja Católica mostra a incorrupção como um dos ''milagres'' necessários para a canonização de um santo. Entretanto algumas investigações e exemplos mal sucedidos nos fazem indagações como: Por que todos os ''santos'' católicos não estão incorruptos? O que este mesquinho fenômeno prova do sobrenatural? Neste texto, iremos mostrar um simples caso curioso, que envolveu brigais e trambiques dentro do Vaticano, para o velório e o eterno descanso papal. 
    Eugenio Maria Giuseppe Giovani Pacelli, Papa Pio XII, tornou-se o líder da Igreja Católica em 2 de março de 1939, sendo  cardeal durante o governo de seu antecessor Pio XI. Enquanto cardeal, Pacelli foi o principal agente de comunicação entre o Papa e o ditador italiano Benito Mussolini, auxiliando para o firmamento do famoso Tratado de Latrão, firmando aliança da Igreja com um horrendo ditador. Mais tarde, enquanto papa, ficou famoso pelo apelido de ''Papa de Hitler'', por firmar acordos entre a Santa Sé e o ditador. Pelo acordo, Pio XII suspendeu as forças políticas católicas na Alemanha, dando espaço para que sua Igreja pudesse dominar o ensino católico nas escolas. Em troca de tudo isto, Pio XII celebrou o aniversário do Füher todos os anos até sua morte em 1945. Aclamado pelos católicos e odiado por muitos, Pio XII foi uma das figuras centrais durante a Segunda Guerra Mundial.
    Como Papa, Pio XII nomeou seu médico particular, Ricardo Galleazi Lisi. Oftalmologista, Lisi auxiliou no processo de escavação das grutas do Vaticano na procura dos ossos de São Pedro, sendo depois excluído da equipe por dívidas de jogo. Lisi havia sido chamado pelo Papa para na ocasião de sua morte, preparar o seu embalsamento. O embalsamento dos papas é uma tradição de séculos, Pio XII pediu para Ricardo Lisi quando fizesse seu embalsamento, que seus orgãos internos não fossem retirados. Lisi prometera ao papa uma técnica de embalsamento que misturava diversas ervas, que ele chamara de ''revolucionária''. O médico chegou a trazer ao Papa uma mão de uma cadáver acidentado, a qual ele teria testado sua técnica. 
                                                  Ricardo Galleazi Lisi sendo saudado por uma guarda suiço

   A imprensa mundial estava a todo vapor em ocasião da circulação de informações sobre a saúde do Papa. Até mesmo fotografias ''íntimas'' do Papa estavam sendo vendidas para os jornais. O Vaticano não tinha mais dúvidas para quem fosse o autor, o médico particular do papa, Ricardo Lisi. Lisi tinha um irmão da alta cúpula católica. Por este motivo, apesar do apelo do Papa em nunca mais o ver, Lisi foi afastado do Papa, mas mesmo assim não perdeu sua função de médico papal, mas foi obrigado a afastar-se do pontífice. Neste período, o médico continuou a vender informações sobre a saúde do papa para os jornais, mas estes já não davam credibilidade para seus assuntos.


                                                Pio XII usando um tubo de oxigênio

    No dia 09 de outubro de 1958, vem a falecer o Papa Pio XII, então com 82 anos, em sua residência de férias em Castel Gandolfo. Sob grande confusão, sua morte já foi anunciada de um modo um tanto confuso e destrambelhado. O Vaticano combinou com a imprensa uma forma de anunciar a morte do Papa, a janela do quarto papal ficaria fechada, e seria aberta com a morte do pontífice. Mas enquanto Pio XII estava em seu leito de morte, um dos funcionários passou pela janela e a abriu sem saber do combinado. Assim, o Papa não havia falecido, e a imprensa anunciou seu óbito.
    Galleazi Lisi foi então chamado para o embalsamento do corpo do Papa, que deveria logo ser realizado para seu longo funeral. O médico aplicou sobre o corpo do Papa, uma mistura de ervas aromáticas e então envolveu o corpo em papel celofane. Seguido dos preparativos, o corpo do Papa saiu sob um verão escaldante de sua residência em Castel Gandolfo para a Basílica de São pedro e outras igrejas de Roma. 
    Logo que o corpo foi apresentado primeiramente para a família Pacelli e em seguida os cardeais, notou-se que havia algo estranho no Papa, seu corpo estava adquirindo uma coloração roxo-azulada. A culpa primeiramente foi do forte calor, mas em seguida do translado do Papa para a Basílica de Latrão, viu-se que o método de embalsamento havia dado errado, os guardas suíços não conseguiam aguentar o forte odor de putrefação. A situação agravou-se tanto que os olhos do Papa escorriam sangue escurecido, e seu nariz e dedos estavam literalmente, despedaçando-se. Como o corpo do Papa tinha que cumprir os nove dias e não podia ser posto num caixão, novos médicos foram chamados, e uma máscara de cera foi colocada sob o rosto do pontífice. 


                                           Pio XII poucos minutos após o falecimento

                                          O estado crítico do papa após as primeiras horas do embalsamento, repare no sangue que escorria por seus olhos


                                           
                                      Pio XII com já com uma máscara de prata feita durante sua beatificação

    Ricardo Galleazi Lisi foi demitido do colégio cardinalício e expulso da ordem dos médicos por má conduta. O sucessor de Pio XII, João XXIII expulso-o por definitivo do Vaticano. Em 1960 ele publicou um livro chamado Dans I'ombre et dans la lumière de Pio XII, lançado pela editora francesa Flammarion, com o relançamento das fotografias de Pio XII. É chamado por muitos de o médico mais corrupto, ele morreu em 1968, lembrando seu trabalho de ''bondade''.

terça-feira, 12 de maio de 2015

O assassinato de blogueiros ateus em Bangladesh.



Quando silenciamos alguém, nos tornamos prisioneiros de nossa própria ação. O direito de falar deve ser o mesmo do ouvinte de ouvir e dar sua resposta. Rosa Luxemburgo dizia que a liberdade de expressão é insignificante, a não ser que garanta a liberdade de quem pensa diferente.
 Não sei se teria muitas palavras para resumir hoje a morte de alguém que poderia muito bem ser eu próprio. Ananta Bijoy Das, de 33 anos, é o terceiro blogueiro vítima de radicais islâmicos em menos de poucos meses. Seu maior crime: ser escritor de um blog ateu em Bangladesh. Ananta mantinha além de seu próprio blog, textos para o site http://www.mukto-mona.com/. A facção terrorista Al Queda assumiu a autoria do assassinato que se deu de forma brutal com várias facadas. Ateu militante, seus textos sobre filosofia e direitos humanos eram visualizados todos os dias. Segundo os islâmicos, Ananta teria insultado ao profeta Maomé e ao Islã. Bangladesh, país de maioria islâmica, mas considerado um Estado Laico, já teve o históricos de massacres coordenados desde mafiosos como Henry Kissinger, até por seus próprios governantes. O país vive sobre tensão de grupos de direita que ameaçam completamente quem quiserem e aonde quiseres.
Este caso assim como os outros tem me causado um impacto de pensamento do tipo: Este homem poderia ser eu. O que me torna diferente? Mesmo ateus não coordenarem assassinatos em nome do ateísmo, não bombardearem prédios, não queimarem pessoas e outras centenas de crimes horríveis dos quais a religião não consegue livrar-se, ser declaradamente um ateu em nosso país e militar em combate a religião é uma vulnerabilidade que encara desde rostos virados até o preconceito e longos sermões sobre temas como a moralidade. Particularmente, espero mais de religiosos no meu caso. Mesmo que já tenha recebido ameaças por e-mails, a chatice de estar na mira de algumas pessoas mesmo vivendo sobre um Estado que se diz laico, é algo sempre arriscado. O velho ditado quem fala o que quer ouve o que não quer, hoje é substituído pela lei do olho por olho, dente por dente. Minha opinião é suficiente para mim e me asseguro o direito de defende-la sempre que posso. Para os que discordam disto, fiquem livres para críticas. A morte de alguém, jamais é justificada desta forma. Por milênios, a religião tem feito o contrário do seu prometido, enviando sangue e um belo ‘’cale a boca’’ para quem decidir ir contra sua soberania. Um ato covarde, delirante e criminoso, de uma sociedade que ainda guarda resquícios de uma negra Idade Média. Colocar alguém para decidir por você o que você deve ou não ler, deve ou não ouvir, significa colocar toda sua liberdade água abaixo.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Analisando o mistério dos Santos Incorruptos: Da fé à realidade.



                 Corpo de Santa Zita. Pesquisas recentes mostram que o ambiente proporcionou uma  duração de sua incorrupção

Os Incorruptos como são chamados, foram por muito tempo relíquias de alto valor dentro da religião Católica. O costume começou na Europa durante a Idade Média. Os europeus costumavam desenterrar os corpos dos que consideravam servos fiéis de Deus neste mundo, para coletar relíquias, pedaços de ossos que eram expostos em relicários pelo mundo inteiro. Ao desenterrar estes corpos em mosteiros, cemitérios, igrejas, muitos corpos encontravam-se em perfeito estado de conservação. O fenômeno era considerado um milagre do próprio Deus em honra da santidade destas pessoas. Outros diziam que os corpos estavam incorruptos para aguardarem a volta de Jesus, aonde ressuscitariam. Pessoas de todo mundo, têm visitado igrejas contendo redomas de vidro com estes santos. Alguns exemplos são São Vicente de Paula, Santa Bernadete, Santa Rita de Cássia. Muitos destes cadáveres também são conhecidos por exalarem um forte odor, o que para muitos é sinal de santidade. Por anos a Igreja Católica reconheceu a incorrupção como prova de santidade.


Livros inteiros dão destaque a este fenômeno. A ciência não satisfez muito com esta explicação e resolveu investigar vários destes corpos. Heather Pringle e Roger Webber são dos pesquisadores destes fenômenos. Webber conta o caso de uma matrona da época vitoriana, encontrada incorrupta e que falecera em 1839. Trajada com uma touca branca, ela contemplava o mundo com o rosto de quem não queria partir. Os dois examinaram seu corpo, acostumados a encontrar caixões de até 250 anos incorruptos. Esta senhora falecera na Inglaterra, local aonde não se encontram muitos destes corpos. Quando eles e seus colegas escavaram o túmulo, já haviam notado a umidade excessiva no local. A chave era mais simples. Na época vitoriana, era comum famílias mais ricas pagarem pesadas urnas de carvalho ou olmo, calafetadas com piche sueco, e revestidas por dentro e por fora com chumbo pesado. Estes caixões eram tidos como indestrutíveis, mas na maioria dos casos o chumbo oxigenava e sofria corrosão, eliminando assim agentes de corrupção. Entretanto, se uma destas urnas era enterrada em um solo com argila pesada, formava-se um vácuo a sua volta, lacrando o cadáver contra água e outras bactérias responsáveis pelo apodrecimento do corpo.
 
Entre os católicos zelosos, muitos cultos eram gerados em torno dos restos mortais de seus santos. Tomás de Aquino dizia que o próprio Deus honra essas relíquias. Santa Zita é um claro exemplo, após ter seu corpo exumado, católicos disseram que cegos enxergavam, paralíticos andavam e várias pessoas eram curadas. O corpo de Santa Zita não revela qualquer sinal de decomposição. Ezio Fulcheri é perito em santos incorruptos, ou como ele prefere chamar, múmias dos santos. Patologista, ele dirige um laboratório em um dos maiores e mais movimentados hospitais da Europa. Fulcheri juntou-se com um egiptólogo chamado Monsignor Gianfranco Nolli, inspetor do Museu Egípcio do Vaticano. Uma outra profissão sua é trabalhar na causa dos supostos milagres atribuídos aos santos, incluindo a incorrupção. Durante seu trabalho, Nolli foi chamado para que ele preservasse o corpo do cardeal ucraniano Josef Slipyj. Transformando a cripta aonde Slipyj estava enterrado em um laboratório, Fulcheri, Noli e mais uma equipe de 20 pesquisadores retiraram o corpo ainda intacto do cardeal. Seguindo os métodos egípcios, a equipe removeu o cérebro, as vísceras e limpou as cavidades internas do cardeal. Imergiram então o cadáver sobre um banho químico destinado a deter a decomposição enzimática. Durante os 4 meses seguintes, a equipe imergiu o cardeal em um série de soluções químicas, registrando cada passo com fotografias. Após o processo, o corpo do cardeal foi levado para Lviv, capital da Ucrânia, afim de ser canonizado.
             Corpo do cardeal Josef Slipyj, embalsamado por Gianfranco Nolli e sua equipe. Apesar disto, seu corpo ainda é venerado e sua preservação é para os fiéis um sinal divino.

A tradição popular européia de preservar seus corpos começou por volta do século XVII, aonde anatomistas e químicos faziam experiências de preservação a curto prazo. Mais para frente, Fulcheri foi novamente convidado para analisar o corpo de Santa Margarida de Cortona, sepultada no século XIII e incorrupta desde então. A congregação para doutrina da fé queria tratar de algumas falsas relíquias de uma vez por todas. Fulcheri examinou todos os registros históricos e eclesiásticos da época e fez uma descoberta interessante. Santa Margarida era uma mulher admirável na sua cidade, e o povo de Cortona tinham a firme determinação de preservar seu corpo, para que assim Deus pudesse continuar operando milagres na cidade. Os que fizeram a preservação da santa, extrairam seus órgãos internos e embebedaram sua pele com ungüentos e loções fragrantes. Esses cristãos passavam vários ungüentos nos seus santos com preservativos naturais e enrolavam-nos em panos de linho. Em 1697, por exemplo, um cirurgião italiano deixou uma lista de 27 ervas e drogas que usou para preservar o corpo de São Gregório Barbarigo.

                       Corpo de Santa Margarida de Cortona, uma outra mumificação da Idade Média

Outros casos como o de Santa Zita, Santa Savina, estão incorruptos devido ao próprio local em que foram sepultados. Em vez de cemitérios, estes santos deveriam descansar mais próximos dos altares das igrejas, em criptas. As criptas eram escavadas em solo frio ou forradas com pedra alcalina, um propício ambiente para a mumificação. Quando retirados destas, a incorrupção começava a sair do previsto, os corpos começavam a escurecer a apodrecerem, foi o caso de São Crispim. Após ser retirado da urna, o corpo do santo começou a escurecer em poucas semanas. Hoje ele está coberto por uma ‘’segunda capa ‘’feita de prata.
 
               Redoma com o corpo de São Crispim. O fenômeno foi considerado um fiasco quando tentando manter a ideia dele estar incorrupto, mudaram-no de redoma e o corpo apodreceu. Uma urna de prata agora cobre a ideia de seu corpo estar supostamente incorrupto.



Santa Clara de Assis foi outro caso de uma santa incorrupta por mais de 700 anos. A equipe de Nolli, notou ao visitar a santa, que sua pele estava marrom e opaca. Nolli conseguiu uma permissão para analisar o corpo da santa junto com Fulcheri e sua equipe. Em lugar da pele macia, a equipe encontrou uma pele feita de couro, uma máscara de prata e um manequim da santa feita do mesmo material. Dentro dele estavam os ossos da santa reunidos com fios de prata, tecido e piche. As irmãs clarissas não tiveram a intenção de enganar. Como adoravam a santa, pegaram seus ossos e criaram um corpo a sua volta. 
            Santa Clara de Assis. Seu rosto é feito a partir de uma máscara de prata. Muito diferente de uma incorrupção que seria divina.

Um dos corpos que mais é visitado no mundo é o de Santa Bernadete Soubirous. Seu corpo parece estar dormindo totalmente intacto desde sua morte em 1879. O problema é que sua incorrupção não é devido a mãos divinas. Seu rosto está coberto com uma mascara de cera, assim como suas mãos.  Quando seu corpo ainda repousava numa redoma de vidro, ao ser retirado pela última vez em 1925, começou a escurecer e incluindo uma costela da santa deslocou-se do corpo, todo o corpo foi enfaixado. Seu nariz afundou-se no crânio, levando assim a um novo processo para que a santa parecesse intacta e flácida. 
              Santa Bernadete parece repousar em um profundo sono. Este é moldado por inúmeros processos que incluem várias camadas de cera, o detalhe pode ser notado nas unhas.

João XXIII, o doente Papa que teve forças para começar o Concílio Ecumênico Vaticano II, também encontra-se exposto em uma redoma de vidro recebendo venerações diárias. O caixão do papa permaneceu semanas debaixo d’água, após uma inundação em Roma. O problema é que todos os papas são embalsamados, sendo assim, mostrá-lo como um milagre é algo contraditório. 
                O Papa João XXIII não pode ser considerado incorrupto milagrosamente, pois todos os papas passam por processo de embalsamento. Mesmo assim, o ''santo'' é apresentado ao público.


Vários exemplos mais simples são encontrados, como o corpo intacto do revolucionário e herói russo Vladimir Lênin, que passa por processos anuais para sua preservação. Múmias do deserto do Atacama na América Latina. A menina de Yde, alterada pelo tempo e pelas substâncias químicas do pântano aonde foi encontrada. Corpos de alpinistas dos Andes congelados pelo extremo frio. Influenciada, talvez, por todas estas descobertas, a Igreja Católica deixou bastante de lado a prática de mostrar aos fiéis seus santos aparentemente incorruptos. A incorruptilidade não é mais aceita como forma de milagre para a canonização.
       Corpo do revolucionário Vladimir Lênin. A sua incorrupção rende minuciosos trabalhos de embalsamento anuais.