Por milênios,
nós seres humanos fomos incapazes de responder as várias questões da natureza.
Furacões, terremotos, erupções, eram vistas como fúria de deuses que brincavam
conosco na abóboda celeste. E por milênios, uma pergunta teve várias tentativas
de respostas mais toda insatisfatórias. Por que os seres humanos e a natureza
são tão complexos e belos? Este argumento é ainda utilizado por muitos
religiosos para justificar a existência de um Deus, mesmo após nossa grande
descoberta: A evolução.
O famoso
tratado de Willian Paley parecia ter posto um fim a esta pergunta. Publicado em
1802 é a exposição mais conhecida como O Argumento do Desígnio. Até hoje é o
mais influente dos argumentos a favor da existência de um Deus. Frequentemente
sou perguntado: Como você pode não ver um Deus em tanta beleza e formosura da
natureza? Willian Paley passou anos estudando seu argumento até propo-lo. Seu
pensamento foi o seguinte:
Suponhamos que ao cruzar um descampado, eu
me deparasse com uma pedra, e me perguntasse como a pedra viera dali; eu
poderia muito bem responder que tanto quanto saiba, esta pedra pode estar ali
desde sempre e creio que não seria fácil acusar tão resposta de absurda. Mas
supomos que eu tivesse encontrado um relógio no chão e que me perguntasse como
o relógio está ali. É algo muito complexo para ter surgido do ‘’nada’’,
portanto tem que haver um Relojoeiro, alguém que criou este relógio. E a
este Relojoeiro, Paley chamou de Deus. Isto segundo ele valia para toda a
natureza. Tudo era muito bem feito, por tanto tinha que ter um Projetista.
Se tivéssemos
vivido no início do século XIX, é bem provável que o argumento de Paley para o
Relojoeiro fosse aceito por uma grande maioria. Entretanto, já de começo
podemos ver algumas questões sobre este argumento. Ele propõe novas e mais
audaciosas perguntas: Quem criou o Relojoeiro? De onde ele veio? Quem ele é?
Pela chave
deste argumento ainda usado pelos famosos criacionistas, mais de 50 anos
depois, Charles Darwin em 1859 publicou o livro que mudaria a história da
humanidade: A Origem das Espécies. Nele Darwin propunha que não havia
Projetista algum. A primeira vista isto parecia ridículo. Retire todas as peças
de um relógio, e tente reconstruí-lo de forma aleatória. Apenas uma combinação
lhes dará as horas. Assim que o astrônomo Fred Hoyle afirmou que as partes de
um organismo vivo juntarem-se espontaneamente entre si é a mesma coisa que um
furacão passar por um ferro velho e formar um Boeing 747.
Hoje a
evolução é um fato questionado tanto como o fato da Terra e os outros planetas
estarem orbitando o Sol, nas palavras de Richard Dawkins. E temos uma pista de
como isso começou bem perto de nós. O animal que foi uma grande fonte de estudo
para Charles Darwin foram os pombos. Ele percebeu que criadores de pombos
podiam cruzar espécies criando assim outras variedades. Havia pombos de leque,
pombos jacobinos, pombos de face curta ou de face alongada. Darwin descobriu
que todos eles derivavam de uma mesma ave, um mesmo ancestral em comum, o pombo
da rocha. Este esforço em criar tipos de animais diferentes chama-se Seleção
Artificial. Mais Darwin pensou que o mesmo processo se dava na natureza. Mais
como isso poderia acontecer sem um Projetista Divino? Darwin encontrou a pista
examinando entre outros animais, os tentilhões da ilha de Galápagos. Existem
cerca de 13 espécies todas com bicos diferentes, mais originárias de um mesmo
ancestral. Os tentilhões exercem atividades diferentes, desde agirem como
pica-paus até sanguessugas. E para cada uma dessas atividades, exigem-se um
tipo diferente de bico. Este processo chama-se Seleção Natural.
A analogia
preferida de Willian Paley e dos criacionistas atuais é o olho. Uma estrutura
muito perfeita para surgir por acaso o que leva a uma mesma situação: Imagine
que eu me depare com um cofre em um banco com diferentes combinações de 4
números. A chance que eu acerte a combinação por acaso é de uma em dez
trilhões. Entretanto, imagine que cada tentativa em que eu chegue perto de
algum número correto, a porta do cofre se abra um pouco. Então, é tudo ou nada.
É claro que a
evolução não usa este tipo de artifício. Acertar uma senha correta por puro
acaso ou fazer um olho de uma só vez, é tão improvável quanto o antigo exemplo
de um macaco escrevendo uma peça de Schakespeare. Um macaco levaria o tempo da
existência do universo para fazer isto simplesmente batendo nas teclas de um
computador. Suponha agora que cada vez que um macaco for bater nas teclas de um
computador para formar uma peça de Shakespeare, ele receba formas cumulativas
em cada acerto. A chance assim passa a ser muito maior.
Assim funciona
a seleção natural, um processo gradual que se dá aos poucos para se adaptar ao
ambiente em que tem que viver. ‘Puxando’ de cá, ‘esticando’ de lá, a seleção
natural vem por milhares de anos fazendo com que a natureza molde-se e pareça
tão perfeita. E o melhor, sem um Projetista Supremo.
Como não sou
biólogo, não entrarei em maiores detalhes. Mas qualquer um que pergunte a um
biólogo encontrará a resposta para suas perguntas. Caindo assim por terra o
argumento de Paley, nós não surgimos por acaso ou fomos criados por um Supremo
Projetista. Mais sim, moldados pela própria seleção natural através de milhares
e milhares de anos. Mais o que prova isto? Não seria apenas uma teoria?
Em meio
acadêmico a palavra teoria não tem o mesmo propósito que conosco. Afinal a
gravidade também é chamada de teoria. A evolução é hoje um fato. O que nos faz
crer nela é bem diferente de uma fé ou por que fomos doutrinados assim. São as toneladas de evidências que a provam e
vem provando cada vez mais. A distribuição geográfica de animais e plantas, os
fósseis, a comparação do DNA, são apenas alguns. Compare num microscópio(O que
Paley teria ficado muito pasmado e admirado) a semelhança entre qualquer ser
vivo. E você verá que somos todos primos, derivando todos nós de um mesmo
ancestral em comum, e cada vez mais, deixando de lado como atrasada, qualquer
idéia de um Projetista a não ser a própria evolução por seleção natural.
O biólogo Richard Dawkins dedicou um documentário e um livro com o nome O relojoeiro Cego, sobre o estuda desta teoria.
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